Diário de
Trabalho: Saulus Castro – 17/09/2012
Algumas coisas “vão
vindo” e esvaziando todas as outras que imaginávamos verdades, corretas,
correções. Dá pra esquecer... Tudo o que estava arrumado, as coerências, dá pra
errar as letras. Dá pra errar o certo, se dá... Dá pra enlouquecer, ler, viver,
dizer, saber, conceber, rever, lamber, morrer, ser, não ser, ir de ré e voltar
correndo. Dá pra mexer as cadeiras tropeçar nos fios de saudade morrer mais uma
vez estender os papéis nos varais de sons gravados e que atravessam as cadeiras
mentais, rasgar papéis, beijá-los, marcá-los com o que sobrou do batom que foi
comido pela borda boca, chupá-lo, chupar o dedo, o dedo do pé, buscar o
indevido e encontrar o improvável, dá pra chamar por minha mãe e acenar com a
mão escrita por caneta esferográfica, dá pra coçar e espantar as pulgas, dá pra
dizer “não” e ler uns trechos que escreveram quando ainda nem era nascido. Dá
pra usar binóculos e tropeçar [mais uma vez] nos fios de sobreboca, dá pra
derrubar cadeiras, rasgar papéis pegar o filho nos braços e cantá-lo uma
cantiga de ninar inconcebível e eterna, dá pra cantar qualquer canção e cortar
cordões de umbigo dá pra passar um véu sobre o rosto e se fingir de morto. DÁ
PRA MORRER mais uma vez e nascer ao apagar a luz com o som baixinho
cantarolando uma língua incompreensível, dá pra não compreender e fantasiar o
compreensível dá pra desdizer o não pensado dá pra colocar na cabeça idéias
tolas e criar equipamentos de mergulho dá pra elastecer os fios de uma alma
absorta inerte nos caminhos que não são mais dela dá pra doer e dá pra sorrir.
Dá pra dar.
Dá pra soprar as
penas; dá pena...
Dá pra falar à
lua com a luneta. Luneta vem de lua?
Dá pra crescer.
Tudo é possível.
Que desastre