sexta-feira, 26 de julho de 2013

Ninguém sabe o que quer ser nessa vida.

Diário de trabalho: Saulus Castro - 03.07.2013

Chegou-se a um lugar, fim de viagem, de encontros. Chegou-se, e ninguém sabe o que quer ser nessa vida, é a primeira ideia que cruza o momento, sobre a gaveta de tantos guardados, sobre a mala de tantas viagens, chegou-se ao lugar dos ombros e das cabeças caídas, o olhar pro chão, o céu é chão, não passa dos nossos pés; e isso é impulso ou prisão. Ficou um cheiro de dinheiro nas mãos, metal, e o cheiro de cabelo no meu olho. As malas me carregam, estas tantas coisas rangindo dentro peito adentro; o peso sou eu. Tudo o que apodrece volta sendo adubo ou sendo pus.



terça-feira, 16 de julho de 2013

Diário de trabalho: Saulus Castro - 05.06.2013



Era para andar num não-chão. Num lugar último. Tudo o que conecta é parcial. Ligações singelas não são daqui, não são visíveis. Eu vi o fim do filho, guardado com tanto carinho, contanto, não suficiente. Eu vi a via de ligação separar o nosso, o querer nosso dividindo, deixando asfaltos intrafegáveis; eu vi a fuga e a alegria que não transbordava. Aconteceu da via desviar, virar torto destino e rumo, enviesar olhar distraído e desaliviar ardores de coração. Era luta e ganho e era indefinível qual dos véus primeiro sucumbiria. Quebrou-se a via movediça, extrapolou-se o limite do “aqui”, era de escada e escuridão, de uma janela enorme que se deslizava para o laranja cobertor de pássaros. Uma figura que testemunhava a dor da gente. A porta aberta, o canto habitado, era de aranhas e veneno. O filhinho vinha nos braços, dormia. Ela o ergueu. A via o ventilava lá pra cima. O lance era próximo. Mas, foi de chão, de golpe oco. Era som de garganta esfacelando. Minha? Era o habitar-se em si.


quarta-feira, 3 de julho de 2013

Gaveta



De tanto rebocar tijolos com unhas pontiagudas um olho menino desaguou no ombro magro da moça, e riu para si admirado com o mundo, e disse fundo o que de dentro saia, “Ninguém sabe o que quer ser na vida”. Da ida e vinda pouco importa, dizem que o meio é o melhor ponto, nunca começa nem esgota. Mas ela sempre fica com olhos mortos e cochila num ombro menino de quem pouco conhecia, teme a queda que desperta e sente o resto do que havia. Quando cresce se perde o mundo, parece que esta tudo na ponta do nariz, ou no cheiro suado de cabelo molhado que de obro carecia.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Um bem


Corpos sob pano de cabeças. Quentes lentes coladas. Suor de pelos siameses é assim, de pele mole e coração destinto, é assim, de breves pingos de chuva sobre couro, uns mouros tortos e um bem-querer de perto em guerra de cabeças, de umbigos recém nascidos.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Corte

O inesperado corte, inusitado. Agora sobe um morrinho sob o olho. A mente, mente, mente... Quem sabe é o corpo, sobre o corpo. Depois deduz, deus, dúzias, dízimos... Um Yakub recém decorado, um traço feito a ponta de garrafa ou unha, de alguém querido; uma mão ou pata marca a pele. O filme pára, o sangue corre. Recorte para reconhecer. Um Yakub recém decorado, não é Zana?