Sim é isto!
Este ciclo cromático
de cores incandescentes,
Essa indecência
exposta
Esse exonerar-se
seco e vivo
Este lado trêmulo,
Preâmbulo de
coisas traseiras, atrasadas, trespassadas.
Sim é isto!
Uma roupagem
decomposta
Um livro sob a
cama uma água sobre a boca
Gosto de águas quando
correm
Sim ainda é isto!
Ser pluvioso e geometricamente
curvo
Macio e deleitoso
Um abrir e fechar
de bocas de pernas de portos
De beijo
suavemente leve, vulcânico.
Como não poderia
ser isto?
Como não poderia
ser nesta casa?
Com este pé...
Este afago que
entranha pele e vara vísceras
O despentear de
cabelos dançantes
O encaracolar de
linhas nascentes na cabeça
A leveza com que
toca lábios.
Sim, quero isto e
ainda quero.
Desejo escavar
muros e abrir portas,
Massagear pontes
que levam a nada
As palavras são
assim, um devaneio...
Desejo por morte
viva
Ânsia de tempo
perdido e de vida afogada em entranhas de pele
Desejo a mão larva
e de peso singeloso
A quentura de um
corpo plácido, plasma.
Sim, ouço um
zumbido!
Mas apenas o ouço,
não o sinto.
Rói os tímpanos e
afoga no cérebro o zumbir desta cidade
As asas da libélula
levemente estragadas
Teu olhar estúpido
pela brecha da porta,
E a intimidade de
uma roupa intima sobre as cordas intocáveis de um velho instrumento.
Gosto de gente
liquida e brevemente pedregosa,
Gosto do verdume
das folhas que entram pela janela
E o cheiro
desentoxicante de pele suja.
Como a do menino
feridento de meus sonhos.
Penso por esse rio
sangue que salta veias e ventoinhas
As lamúrias da
velha mendiga tecedeira de vazios
Esse vivo sangue
que brota entre pernas nos marcados 13 de cada mês
Essa espera atenta
e ociosa por um sopro que conduz
Que desvirtua que
desassossega.
Não se pode
perturbar o que nasce sem senso
Esta mente
inquieta e flácida anencefálica
Este desassossego de
nascença
Sim, ainda é isto!
Por aqui mesmo em
enleio teimo por respirar no meio
E tropeço na
ironia de teus olhos levemente estúpidos que
Lançam-se à minha
beira
Decido por ir
Por ficar ainda
indo
Desejo não desejar
nada
Só ter vazio
E esvaziar palavras
para nada nem ninguém.
Só ser vazio.