Beira de estrada...
Os ouvidos despertam na
madrugada, os olhos mal piscam já se abrem ao susto de ouvir o som de algo que
nunca tirou o sono. A voz, a notícia, o choro, a passagem, o desespero. Uma
palavra traz consigo mil sensações, mil questões, inúmeros silêncios. Tudo
trava, o fio de angustia percorre cada membro do corpo e se prende no peito, de
lá ele não arreda, gruda, e parece apertar. Os olhos demoram marejar, a mente
processa a mensagem, tudo parece cair, sensação estranha, os pés escorregam do
chão, flutuam. Mas os olhar ainda está seco, e fica seco, trava a voz e as
palavras não saem. Só vêm lembranças, inúmeras, milhares de palavras, imagens e
gestos se misturam na memória. Toda uma vida parece passar entre os olhos. O
consciente não aceita, insiste em permanecer estável, imóvel. A morte entra,
suga o último ruído, traz o ultimo suspiro. Ela não tem mais mãe, e o pai
também acabou de ir... O consolo se perdeu no brotar dessa manhã, no nascer
desse sol. O tempo acaba a maquina desliga, o copo se deita, os olhos marejam
sem entender, e antes que respinguem no travesseiro a água seca, vira pó, e as
memórias tornam a se misturar. É um alivio apertado. Os dedos inquietos tentam
falar com o distante. Vem o copo de café até a borda, o hálito de cachaça
constante, a barba espinhosa que rala o rosto ao pedir a bênção, as mãos
ásperas, o sorriso banguelo escutado de longe. Acabou-se o abraço sujo de
barro, secou o beijo babado. Os olhos jamais viram a semente que cresceu longe.
Tocou o sino, enterrou-se a face, abriu-se um mundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário