domingo, 16 de junho de 2013

Diário de trabalho: Uerla Cardoso. 15/05/2013

Zunido


Ele é desesperado, parece que está se lamentando o tempo todo, tem medo de si, conversa com outro em si, talvez seu oposto. Vários mundo dentro dele, outros seres vez por outra saem, dizem o querem dizer e vão embora. Nasceu do nada, vazio, vazio... sem caber nenhuma gota. Má formação ri do próprio choro, do ridículo, chora do próprio riso.  É acumulo ou seco? escuta sua lástima resto de parição dentro do pote. Vi um feto do tamanho de meu polegar no quarto de minha tia quando criança, ele tinha um nome, não me recordo direito, mas se chamava alguma coisa. Defunto que não nasceu, defunto dentro do corpo, dentro do copo, mas tinha um nome, foi batizado antes de se conceber humano, foi um pedacinho perfeito de carne, imperfeito na sorte. As imagens se vão por muito tempo, bastou te permitir a mim que me veio esta lembrança como se fosse hoje...O teatro tem dessas coisas mesmo, permitir que retorne as lembranças esquecidas. Tu cantarola, ele cantarola tanto, é sozinho com os zumbidos. Qual a margem do teu choro? O fundo do teu riso, e tuas travessuras? Não move nada e parece viajar nas estrelas. É uma vontade de gritar que tem, está preso, amarrado nas pragas, nas cordas, nos dentes. O menino de dentro... Será criança? Será nascido? Será feto? Será vivo? Será morte? O corpo precisa parir, abrir, estender... talvez não precise. Ele vê alguém estendido lá fora, outra figura habita o mesmo lugar. O choro alivia, a coriza salgada também, está coberto de suor. O homem de pés de pato que pendura coisas nos galhos, está seco, caminha leve sobre nuvens. É mau ou bom? É bicho? a unica coisa nítida é “cala a boa”, no meu de um tudo de mundo. Onde encaixar a criatura em história de caboclas, homens e mulheres de filhos, é só uma criatura! Será o útero de Zana? Semente torta de Halim?! Um dos grandes homens não é grande, só existe um primogênito, não é o que ri chorando com a própria sombra.

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